A História do Parto
O nascimento é um evento natural. As primeiras civilizações agregaram, a este acontecimento, inúmeros significados culturais que através de gerações sofreram transformações, e ainda comemoram o nascimento como um dos fatos marcantes da vida. Antigamente, os homens viviam conforme seus “instintos naturais”. A princípio, a mulher se isolava para parir, geralmente sem nenhuma assistência ou cuidado vindo de outras pessoas, apenas seguia o seu instinto. O parto era considerado um fenômeno natural e fisiológico.
A historicidade da assistência ao parto tem início a partir do momento em que as mulheres auxiliam umas às outras e iniciam um processo de acumulação de saber sobre a parturição. Dessa forma, começa-se a agregar valores aos conhecimentos acerca do processo de nascimento entre as próprias mulheres, e o parto passa a se tornar um evento mais importante na vida das mulheres. Então, uma mulher que a comunidade considerasse como mais experiente, era reconhecida como parteira – essa parteira se traduz na figura da mulher que atende partos domiciliares, mas sem nenhum saber científico. Seus conhecimentos eram embasados na prática e na acumulação de saberes, passados tradicionalmente de geração para geração.
A parteira era capaz de vivenciar com a mulher todos os momentos do processo de nascimento, doando seu tempo e dedicação. Usando de sua sabedoria inata, ela não tinha pressa, pois sabia que é prudente observar a natureza e deixá-la agir livremente. A fundação de universidades e posteriormente a criação de cursos profissionalizando médicos estava intimamente ligada e controlada pela igreja. A admissão estava limitada aos homens das classes altas e, portanto, inacessível às parteiras. Devido aofato de que a gravidez e o parto não serem considerados doenças, esses assuntos não eram rotineiramente incluídos nos currículos médicos. As enfermarias dos hospitais eram reservadas aos procedimentos médicos e uma parteira nunca levava uma parturiente normal para este ambiente.
No século XVII ocorreu uma grande transformação na obstetrícia: a introdução dos cirurgiões na assistência ao parto, pois ainda não existia a obstetrícia e a ginecologia como especialidade médica. Quando apareciam situações inusitadas, complicadas ou perigosas, as parteiras recorriam, na maioria das culturas, ao homem – inicialmente shamans, padres ou rabinos, mais recentemente aos barbeiros-cirurgiões e finalmente aos médicos. A presença masculina no parto era vivida com inquietude pelos presentes, pois significava que algo ia muito mal. Mais tarde, os médicos foram assumindo o controle da assistência ao parto.
Desabituados do acompanhamento de fenômenos fisiológicos, os médicos foram formados para intervir, resolver casos complicados e ditar ordens. O parto passou então a ser visto como um ato cirúrgico qualquer e a mulher em trabalho de parto sendo chamada “paciente”, sendo tratada como doente e impedida de seguir seus instintos e adotar a posição mais cômoda e fisiológica. Iniciou-se a era do parto médico, no qual a mãe deixa de ser a figura mais importante da sala, cedendo seu lugar à equipe médica. Os papéis se invertem e o obstetra passa a ser o centro da cena, obrigando a mulher a se deitar numa posição desconfortável, sendo impedida de adotar a posição que achar mais confortável. Não podendo opinar em seu direito básico de escolha e participação ativa no nascimento do próprio filho. As posições verticais, que ao longo dos milênios foram as mais usadas pelas mulheres, em todas as raças e culturas, lhes eram negadas pelo obstetra.
Em torno de 1880, os médicos apresentavam uma melhor aceitação da sociedade e as mulheres de todas as classes sociais começaram a procurar a maternidade para os casos mais complicados e gradualmente considerá-la mais segura do que o domicílio. A reviravolta aconteceu na segunda metade do século XX, quando as cesarianas aumentaram a níveis inaceitáveis e o ambiente impessoal dos hospitais, a presença de grande número de pessoas desconhecidas em um momento tão íntimo da mulher, aumentaram o medo, a dor e a ansiedade. Nessa nova realidade, havia a necessidade de uma profissional que proporcionasse apoio psicológico e físico à parturiente, surgiram as equipes multidisciplinares com enfermeiras obstetras, fisioterapeutas e doulas.
Os hospitais buscaram na rede hoteleira as melhores experiências em conforto e se especializaram no atendimento humanizado, oferecendo um ambiente mais adequado ao nascimento, parto e pós-parto, com suítes de parto confortáveis e analgesia de parto a disposição da parturiente 24 horas por dia. Assim, o atendimento à mãe e ao bebê tornou-se mais seguro e confortável e encerrou-se o ciclo de sofrimento imposto a mulher durante séculos.